Entenda um pouco mais sobre o surgimento deste movimento e sua influência no cotidiano da sociedade

Texto: Victor Rodder
Fotos: Divulgação

Apreciar a beleza e a forma é algo natural, e para isso não precisamos saber se determinado carro tem um motor 454 ou um 302. Olhamos e o consideramos bonito. Mas quando conseguimos diferenciar alguns aspectos e aprendemos mais sobre qualquer assunto, passamos a admirar e dar o devido valor a esse assunto. Este foi um dos fatores que me motivou a falar um pouco mais sobre pin-ups. Minha história com as pin-ups é antiga: veio junto com o amor pelos carros, pela música e por tudo aquilo que remete à década de 50. Tenho em casa uma modesta coleção de livros, revistas, calendários e post cards sobre o tema, e posso ainda me gabar de ter em meu circulo de amizades, quem eu considero a primeira “pin-up” moderna brasileira: a carioca Ana Bandarra, que estará na próxima edição em uma entrevista exclusiva. E é com base nessa experiência que vou tentar dividir com vocês um pouco do que aprendi, sempre sem a menor pretensão de saber de tudo ou de dar a palavra final sobre qualquer assunto.

Primórdios

Desde a pré-história existe algum grau de veneração para com a forma feminina. Um bom exemplo são as esculturas paleolíticas de mulheres bem dotadas.

Não se sabe bem se eram símbolos de fertilidade ou talismãs eróticos repassados por caçadores “mais animados”, mas o fato é que estavam lá, no alvorecer da humanidade. De lá pra cá, passamos por gregos, romanos, a idade média e os nus proibidos dos monges italianos, o renascimento de Da Vinci, Michelangelo, Ticiano; o neoclassicismo da Europa do século XVIII, a arte acadêmica e novamente… isso para ficar no Ocidente! Se pensarmos em Índia, Japão e China vai faltar espaço na matéria desse mês. Fato é que as mulheres e suas representações artísticas estão desde sempre em nossa cultura, mas foi por conta do surgimento da imprensa e posteriormente da forte influência das revistas ilustradas norte-americanas da década de 20 e da ilustração publicitária que se seguiu que as pin-ups entraram na nossa vida!

Pin-up art

“Pin-up” é qualquer coisa que esteja pendurada por um alfinete, gancho ou prego, e que tenha alguma representação para quem o pendurou. Pode ser desde um avião até uma simples foto 3X4, mas vamos nos concentrar no conceito tradicional de pin-up: a Pin-up art. A “Pin-up art” surgiu em meados da década de 30, e são consideradas pin-ups os desenhos, ilustrações ou fotos criadas e tendo como objeto principal uma figura feminina e sexy, levemente sensual, sem serem explícitas, mas provocantes. Um misto de sedução e ingenuidade. Tais imagens necessariamente devem ser produzidas com o fim específico de serem reproduzidas em grande escala, sendo os calendários o melhor exemplo. Hoje o termo pin-up abrange uma enorme gama de tipos de arte e fotografia, e representa inclusive um estilo de vida para algumas pessoas.

Mas em sua concepção original, lugar de Pin up era na parede3! Infelizmente na última década eu assisti de camarote, e com uma certa dose de indignação, o termo ser popularizado e distorcido, utilizado de forma equivocada e sem que se explicasse corretamente o que era “pin-up”. Mas a informação vem chegando e, atualmente, até na Wikipédia se encontra uma boa definição do que são as pin-ups. E apesar da forte associação com a década de 50, pelo que já escrevi fica claro que a pin-up art é bem anterior. Para ilustrar, vale mencionar um dos primeiros registros publicitários envolvendo pin-up, da empresa de bebidas White Rock, que em 1893 lançou uma campanha com o slogan “True purity and quality” (verdadeira pureza e qualidade). Outro bom exemplo é o desenho de Gibson, de 19015: reconhecida como a primeira obra “pin-up” universal – “adorada pelos homens, imitada pelas mulher. Uma influência nos costumes e na moda de sua época”. Gibson era norte americano e fez sua estréia em 1887. Mas na Europa os cartazes da Art Nouveau de Alphonse Mucha6 e Jules Chéret também já delineavam contornos do que viria a ser a arte das pin-ups. Mas naquela época o termo pin-up ainda não era usado. Representações femininas em fotos e ilustrações eram conhecidos e divulgados pela imprensa como “chesscake”, uma das categorias de pin-ups que falarei adiante.

A palavra pin-up foi documentada pela primeira vez na língua inglesa em 1940, no auge das publicações de Vargas e Elvgren , e em 1942 já estava em todas as mídias disponíveis da época. É de 1942 o filme de Betty Grable – Pinup Girl. Betty foi sem dúvida a rainha das Pin-ups de sua época, e a foto publicitária do filme uma das mais impressas e “penduradas” até hoje. Juntamente com essa imagem de Betty Grable, outra imagem que vem imediatamente a mente quando falamos em pin-ups clássicas é a de Marilyn Monroe, deitada sobre um tecido vermelho. A era clássica do “pin-up art” na minha modesta opinião, acabou no início da década de 50. Com o fim da guerra e achega da dos anos 50, uma profusão de fotografias e “modelos” de qualidade duvidosa invadiu as publicações masculinas, os pulp fictions e os calendários, fazendo com que o resultado final passasse a ser cada vez menos sedutor e mais apelativo. Lógico que alguns trabalhos eram muito bons, como os que Bettie Page11 fazia.

Bettie ganhou notoriedade nos anos 50 e era uma das modelos de maior sucesso de sua geração. As produções de suas fotos eram boas e os temas representavam bem outras duas linhas de fotos comumente associadas às pin-ups: O burlesco e o fetichismo. Sua carreira começou em São Francisco, mas foi em uma viagem para o Taiti com seu primeiro marido, Neal, que surgiu o ícone Bettie Page. Nos cinco anos que se passaram após sua viagem, Bettie Page trouxe para as páginas das publicações norte-americanas um novo conceito: as mulheres morenas de sol, com mais corpo e volume. Assim como Luz Del Fuego, Bettie passou a tomar banhos de sol nua e se exercitar cada vez mais. Quando se divorciou de Neal mudou-se para Nova Iorque e lá, em 1950, conheceu o policial e fotógrafo amador Jerry Tibbs. Foi ele o criador da“pin-up” Bettie, pois identificou à época que a testa de sua modelo era larga demais para usar o cabelo partido ao meio.

Bettie, então, eternizou a franja convexa lisa, que se tornou sua marca registrada. Bettie também investiu no mundo da moda: dizem ser dela a criação dos maios, biquínis e a clássica tanga de oncinha. Mas foram os fotógrafos Irving Klaw e Bunny Yeager que imortalizariam a pin-up Bettie Page. Ela já havia trocado a careira de secretária pela vida de modelo há muito tempo quando aceitou posar para Klaw, que lhe pediu poses com bondage. Quando as fotos foram publicadas, o então presidente do Senado Carey Kefauver, indignado com as fotografias de Irving e a apologia ao sadomasoquismo, requisitou a própria modelo a depor. Era o que Bettie mais precisava. Publicações da época como Eyeful, Beauty Parade e Wink imploraram por trabalhos seus até que em janeiro de 1955 foi capa da Playboy e no mesmo ano recebeu das mãos do próprio Hugh Hefner o título de “ Miss Pin-Up Girl do Mundo”.

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