Restaurador experiente com muscle cars decide mudar de ares e monta Ford Tudor 1929 com configuração clássica

Texto: Flávio Faria
Fotos: Ricardo Kruppa

O universo dos carros antigos é imenso e dentro dele existem, além dos hot rods, outras vertentes, como os modelos custom, rat rods e muscle cars. Estes últimos praticamente uma cultura à parte e símbolos da indústria automobilística das décadas de 1960 e 70. Durante mais de 15 anos, os muscle foram a paixão e a ocupação do restaurador paulistano João Luiz Martins, mais conhecido entre os rodders como J. Wayne.

“Sempre tive muscle cars, apesar de gostar muito dos hots antigos, e até hoje monto muitos muscles para amigos e clientes e, por já ter trabalhado tanto tempo neste universo, decidi que faria um hot para mim”. A ideia de Wayne era montar um projeto como era feito no passado: pegar uma “charrete sem cavalo”, com motor fraco, e deixá-la rápida e segura. Quando adquiriu este Tudor, em 2004, Wayne não fez grandes mudanças no projeto original (original mesmo, com freios a varão e motor flathead 4 cilindros) e por um bom tempo ele foi a encontros e utilizou o carro como saiu de fábrica, tendo conseguido até placa preta. Contudo, em dado momento, o projeto passou a não mais a satisfazêlo, principalmente nos quesitos conforto e potência. “Decidi dar um basta e criar um hot nostálgico, mesmo sabendo das dificuldades para construir um projeto neste nível”, comenta.

Para baixo

As maiores mudanças na carroceria do Tudor tiveram como objetivo reduzir sua altura em relação ao solo. O chassi foi rebaixado na frente, em corte em “Z”, rebaixando em 100 mm a parte dianteira do veículo, onde foi adotada a suspensão modelo “suicide”. A traseira foi montada com o objetivo de abrigar a suspensão do tipo ladder bar, com amortecedores coil overs. Com a dianteira e a traseira montadas, a altura do carro caiu mais 250mm.

Além disso, a carroceria foi embutida no chassi mais 150 mm. Ou seja, em relação ao Tudor original, o modelo de Wayne está 500 mm mais baixo. O assoalho original em madeira deu lugar a uma chapa de aço cuidadosamente modelada, pois quando a carroceria foi rebaixada, algumas partes da mecânica “entraram” no carro. A carroceria teve a funilaria e a pintura refeitas. A pigmentação foi feita em PU, adornada com filetes nas cores vermelho e areia. Na traseira, foi feito um pinstriping. Todas as manivelas, maçanetas e acessórios externos são originais do carro. Os vidros verdes receberam gravações com símbolos da Ford, nos padrões originais. As rodas são 16”, originais do Ford 35, montadas em pneus 6.50 na frente e 7.00 na parte traseira.

Rústico

Por dentro, o visual é rústico, com partes da mecânica expostas no assoalho. Coluna de direção e volante são originais do Fordinho. O contagiros, preso logo acima, era usado em carros de corrida dos anos 50. No painel central está uma instrumentação original do Ford 1938, com direito a um termômetro de mercúrio que realmente funciona. No “porta-malas” está o tanque de combustível de 60 litros, feito em tambor de ferro, escovado e envernizado. Trabalhar com mecânica flathead não  é fácil, Wayne que o diga. “Já estamos no quarto motor. Se Deus quiser, este será o último”, brinca o restaurador, que coleciona algumas quebras, normais em propulsores de projeto e construção de mais de 60 anos. Atualmente, o Tudor roda com um V8 flathead modelo 8BA, que tem cerca de 100 HPs de potência.

A alimentação é garantida atualmente por um carburador Stromberg 97, mas o restaurador já tem planos de trocá-lo por um modelo Holley de 390 cfm de vazão. “O Stromberg atualmente está com giclagem maior, mas mesmo assim ainda está dando falta de combustível, principalmente por conta da taxa de compressão e dos escapes diretos”, comenta Wayne. Os escapes, aliás, foram feitos artesanalmente. O câmbio é mecânico, de três velocidades, do Lincoln-Zephyr. Este câmbio foi escolhido por ser mais longo que os originais do Ford. Porém, Wayne já pensa em trocá-lo por um Clark.

Os freios tiveram de ser refeitos pois, segundo Wayne, a coisa ficava feia na hora de parar. “Nós usávamos os freios a tambor do 38, então tinha que passear com uma caixa de pastilha para a garganta, porque toda hora que ia frear era uma gritaria dentro do carro”, brinca o proprietário. Por isso, decidiu pela adoção de conjuntos a disco da F100.

A proprietária

Wayne é aquele que construiu, que faz manutenção, coloca combustível e até quem dirige, mas não poderíamos terminar essa matéria sem contar quem é a verdadeira dona deste carro: Letícia Martins, de cinco anos, filha de Wayne, que está tomando gosto pelas criações do pai. “Ela já reivindicou a propriedade do hot”, conta Wayne. Segundo ele, o próximo carro da filha já está a caminho, mas ainda é segredo. “Aguardem”, diz ele.

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