Desaparecida ao longo dos anos, picape da Chrysler revive velhos tempos com referências norte-americanas e doses de adrenalina com motor V8 318 

Texto: Bruno Bocchini
Fotos: Ricardo Kruppa

O soberano motor de 198 cavalos, o mesmo que equipava o Dodge Dart, lançado no mesmo ano de 1969, fazia da D100 a mais potente das picapes nacionais. A Chrysler mantinha a combinação da agilidade do motor com a lenta e imprecisa direção, somada à simplista suspensão (com eixo rígido e feixe de molas, tanto na dianteira como na traseira), que resultava no terror das seguradoras: um veículo rápido, mas pouco seguro. O desaparecimento dos modelos D100 partiu do fato de bom número deles ter sido destinado às frotas públicas e, posteriormente, tornando-os sucateados.

Assim como os outros carros da família Chrysler (Dart e Charger), a picape sofreu diretamente os efeitos da crise do petróleo. Ficava difícil para qualquer proprietário alimentar a fome do bloco V8, que em média rondava os 2,5 km/l – e perdia para os quatro cilindros 2.5 e 2.3 das concorrentes C-10 (Chevrolet) e F-100 (Ford), emprestados dos Opala e Maverick, respectivamente. A “dor de cabeça” para o entusiasta era não existir a versão diesel para a picape da Chrysler. A equipe da oficina Garage Oldschool, de São Paulo, preparou o modelo Dodge D100 que compõe esta reportagem especialmente para a revista Hot Rods.

Os modelos D 100, à época, eram oferecidos em duas versões: standard e luxo. A versão mais cara tinha como diferenciais para-choques e calotas cromados e friso lateral. Internamente, mudava o revestimento dos bancos e o volante, que era o mesmo do Dart. Na picape mais simples, a direção era a mesma dos caminhões D 400. Para este projeto, a ideia foi tornar a picape mais encorpada e com características mais próximas do modelo americano, contrariando a grade frontal da versão brasileira. “A ideia era montar um projeto bruto, mas ao mesmo tempo que garantisse comodidade para quem quer rodar pelas ruas. Além da mecânica mais invocada, implantamos a grade frontal do modelo americano e deixamos de lado a grade nacional. A picape ficou mais bonita, mais coerente com nossa proposta”, explica Ricardo Kruppa, que trabalhou como consultor do projeto.

A D100 carrega um bloco V8 318 que gera em torno de 250 cavalos. O mecanismo recebeu peças compradas no exterior, como pistão 0.60 mm, cabos MSD, comando de válvulas 282/290 da Comp Cams, coletor de admissão Edelbrock, carburador Holley 600 CFM, módulo e distribuidor MSD, tampa e filtro de óleo Mopar, escape Magnaflow 8×2 e alternador cromado de 120 Ampères. “Incluímos nas modificações o radiador feito em alumínio e diferencial Dodge para distribuir melhor o torque aos eixos, garantindo mais segurança, sobretudo em curvas”, conta Kruppa.

A coluna de direção acrescida ao modelo veio do Dodge Le Baron, assim como o câmbio, que era manual e foi substituído por um automático. Já o sistema de suspensão foi trabalhado por Norberto Jensen, da Hot & Customs, que utilizou a ponta do Landau e amortecedores KYB. No interior da D100, destaque para o volante Colorado Custom e o painel Dakota Digital, que conta com seis instrumentos para leitura. Há ainda um sistema de som feito pelos profissionais da Style Sound, de São Paulo, que inclui dois amplificadores, dois subwoofers de 8”, dois coaxiais e player Alpine. A tapeçaria também é atrativo do projeto – redesenhada com bancos em couro com as mesmas características e tonalidade dos revestimentos dos carros da marca Jaguar – aplicada pela empresa paulistana Abreu Tapeceiro.

Diante do estilo “way of life” americano, a picape manteve as linhas tradicionais, mas recebeu cuidados que garantiriam a beleza e “brutalidade” do modelo. A lataria foi preparada para adotar a cor vermelho Modena e ganhou emblema e retrovisores cromados. Na caçamba foi aplicado revestimento liso nas laterais, em direção contrária ao modelo original, que possuía vincos. Para finalizar, a equipe Garage Oldschool somou rodas Foose aro 20 na traseira e 18 na dianteira. “Esse detalhe da aplicação lisa na caçamba, para nós, faz grande diferença e deixa o compartimento mais bonito. O original mantinha um aspecto pesado demais e fugia da proposta”, explica Kruppa. Ao contrário dos italianos, os americanos gostam de dirigir carros grandes e no Brasil as picapes continuam fazendo sucesso. É só acelerar a Dodge D100 para entender por que o motor 318 foi tão aplaudido na carreira. A mesma base do 318 chegou a equipar os utilitários esportivos Cherokee 5.2 e as picapes Dakota. Quer mais? Você ainda estará carregando o símbolo Dodge como identidade.

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